AS DUAS LUISINHAS
Luisinha era uma menina bonita.
Tinha os cabelos castanhos, lindos e grandes olhos escuros.
Quando saia para passear ou para
ir o colégio, todos admiravam, principalmente por seus bonitos modos.
- Que bela menina! - diziam
alguns,
- Ela é muito bem educada! -
acrescentavam outros.
- E como é gentil com todos! -
diziam ainda.
Luisinha ficava faceira ao ouvir
tais elogios e cada vez mais, caprichava em seu comportamento, quando saía.
Acontece, porém, que havia na
menina duas Luisinhas: a Luisinha de casa e a Luisinha fora de casa.
Enquanto a Luisinha fora de casa
era amável, alegre e educada, a Luisinha de Casa era ranzinza, briguenta e
desatenciosa.
Enquanto a Luisinha fora de casa
era uma menina obediente e caprichosa, a Luisinha de casa era desobediente e
relaxada.
A sorte da menina é que ninguém
conhecia a Luisinha de casa. Isto é: ninguém de fora! Porque mamãe e vovó a
conheciam muito bem. Por isso mesmo andavam bastante preocupadas e tristes.
Reclamavam, aconselhavam, mas
Luisinha de casa não se corrigia, embora, algumas vezes, prometesse fazê-1o.
Certa ocasião, porém, deu se um
fato na vida de Luisinha que a modificou por completo. O acontecimento foi tão
desagradável, que toda vez que ouvia comentários sobre ele, a menininha chorava
de vergonha.
Que fato teria sido então? É o
que vamos narrar:
Era uma tarde muito quente. As
janelas da casa de Luisinha estavam abertas. A menina fazia suas lições sentada
à mesa da sala. Sentada?! Não. Acocorada na cadeira! À sua volta, lascas de
lápis, papéis amassados, borracha no chão...
Em dado momento, vovó comentou:
- Que horror! Onde se viu estudar
assim?
- Já começou?... Pois é assim que
eu gosto! - respondeu a menina com maus modos.
Vovó ficou triste, mas mamãe
reclamou:
- Que maneiras são estas de falar
com sua avó?
- Pronto! Não estudo mais... ⁃
gritou Luisinha, furiosa, atirando o caderno na mesa.
Nesse momento ouviu-se uma voz:
- Dá licença, D. Laura?
Luisinha sobressaltada, virou-se
para a janela.
- Oh! exclamou, vermelha que nem
tomate maduro.
- Entre! Entre! - disse sua mãe,
abrindo a porta.
Quem era?... A professora!...
Logo ela, que tanto elogiava Luisinha!
- Vim buscar o caderno que
emprestei à minha aluna querida, - falou a professora à mamãe. - Onde está
ela?...
Luisinha respirou aliviada:
"Que bom! Ela não viu nada", pensou. E meio sem jeito, aproximou-se,
dizendo timidamente:
- Estou aqui...
A professora virou-se e, muito
séria, perguntou:
- Quem ć você, menina?
- Sou a Luisinha, professora... -
respondeu admirada.
- Luisinha?... você não é a
Luisinha que eu conheço... -- E virando-se para a mãe, que presenciava a cena,
calada, tornou a falar:
- Quando minha Luisinha voltar,
diga-lhe para não se esquecer de levar o caderno amanhã, sim?
A professora despediu-se e saiu.
Luisinha, parada, estava com os olhos cheios de lágrimas. Teve certeza: e
professora vira e ouvira tudo! E ao notar tristeza com que sua mãe a olhava,
atirou-se nos seus braços, exclamando entre soluços: - Que vergonha, mamãe! Que
vergonha...
- Aproveite a lição, minha filha:
Aproveite a lição... - dizia a mãe, acariciando-lhe os cabelos.
A lição foi muito bem
aproveitada, pois desde aquele dia só houve uma Luisinha: a boa menina.
Mamãe, papai e vovó estavam agora
muito felizes!