sexta-feira, 1 de agosto de 2025

PARÁBOLA SIMPLES

 


PARÁBOLA SIMPLES

 

Diversos aprendizes rodeavam o Senhor, em Cafarnaum, em discussão acesa, com respeito ao poder da palavra, acentuando-lhes os bens e os males.

Propunham alguns o verbo contundente para a regeneração do mundo, enquanto outros preconizavam a frase branda e compreensiva.

Reparando o tom de azedia nos companheiros irritadiços, o Mestre interferiu e contou uma parábola simples.

― Certa feita ― narrou, com doçura ―, o Gênio do Bem, atendente à prece de um lavrador de vida singela, emitiu um raio de luz e insuflou-o sobre o coração dele, em forma de pequenina observação carinhosa e estimulante, através de uma boca otimista. No peito do modesto homem do campo, a fagulha acentuou-se, inflamando-lhe os sentimentos mais elevados numa chama sublime de ideal do Bem, derramando-se para todas as pessoas que povoavam a paisagem.

Em breve tempo, o raio minúsculo era uma fonte de claridade a criar serviço edificante em todos os círculos do sítio abençoado; sob a sua atuação permanente, os trigais cresceram com promessas mais amplas e a vinha robusta anunciava abundância e alegria.

Converteu-se o raio de luz em esperança e felicidade na alma dos lavradores e a seara bem provida avançou, triunfal, do campo venturoso para todas as regiões que o cercavam, à maneira de mensagem sublime de paz e fartura.

Muita gente ocorreu aquele recanto risonho e calmo, tentando aprender a ciência da produção fácil e primorosa e conduziu para as zonas mais distantes os processos pacíficos de esforço e colaboração, que o lume da boa vontade ali instalara no ânimo geral.

Ao fim de alguns poucos anos, o raio de luz transformara-se numa época de colheitas sadias para a tranquilidade popular.

O Mestre fez ligeiro intervalo e continuou:

―Veio, porém, um dia em que o povo afortunado, orgulhando –se agora do poderio obtido com o auxílio oculto da gratidão que devia à magnanimidade celeste e pretendeu humilhar uma nação vizinha. Isso bastou para que grande brecha se abrisse à influência do Gênio do Mal, que emitiu um estilete de treva sobre ao coração de uma pobre mulher do povo, por intermédio de uma boca maldizente.

A infortunada criatura não mais sentiu a claridade interior da harmonia e deixou que o traço de sombra se multiplicasse indefinidamente em seu íntimo de mãe enceguecida... Logo após, despejou a sua provisão de trevas, já transbordante, na alma de dois filhos que trabalhavam num extenso vinhedo e ambos, envenenados por pensamentos escuros de revolta, facilmente encontraram companheiros dispostos a absorver-lhes os espinhos invisíveis de indisciplina e maldade, incendiando vasta propriedade e empobrecendo vários senhores de rebanhos e terras, dantes prósperos.

A perversa iniciativa encontrou vários imitadores e, em tempo curto, estabeleceram-se estéreis conflitos em todo o reino.

Administradores e servos confiaram-se, desvairados, a duelo mortal, trazendo o domínio da miséria que passou a imperar, detestada e cruel para todos.

O Divino amigo silenciou por minutos longos e acrescentou:

― Nesta parábola humilde, temos o símbolo da palavra preciosa e da palavra infeliz. Uma

frase de incentivo e bondade é um raio de luz, suscetível de erguer uma nação inteira, mas uma sentença perturbadora pode transportar todo um povo à ruína...

Pensou, pensou e concluiu:

― Estejamos certos de que se lhe oferece à paisagem, a treva rola também, enegrecendo o que vai encontrando. Em verdade, a ação é dos braços, mas a direção vem sempre do pensamento, através da língua. E sendo todo homem filho de Deus e herdeiro d’Ele, na criação e na extensão da vida, ouça quem tiver “ouvidos de ouvir”.

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Livro: “Contos e Apólogos”

Irmão X – Francisco Cândido Xavier

PARÁBOLA DO SERVO

 


Parábola do servo

 

Na linha divisória em que se encontram as regiões da Terra e do Céu, nobre Espírito, exibindo alva túnica, solicitava passagem, suspirando pela Divina Ascensão.

Guardava a pureza exterior de um lírio sublime, falava docemente como se harpa melodiosa lhe habitasse as entranhas e mostrava nos olhos a ansiedade e a timidez da andorinha sequiosa de primavera.

O Anjo do Pórtico ouviu-lhe o requerimento com atenção e, admirando-lhe a brancura da veste, conduziu-o à balança de precisão para observar-lhe o peso vibratório.

Contudo, o valioso instrumento foi contra ele. O clima interno do candidato não lhe correspondia à indumentária brilhante.

À frente das lágrimas tristes que lhe vertiam dos olhos, o funcionário divino exortou-o, otimista:

— Desce à Terra e planta o amor cada dia. A colheita da caridade dar-te-á íntima luz, assegurando-te a elevação.

O Espírito faminto de glória celestial renasceu entre os homens e, sempre cauteloso na própria apresentação, muniu-se de casa enorme, adquirida ao preço de inteligência e trabalho, e começou a fazer o bem por intermédio das mãos que o serviam.

Criados numerosos eram mobilizados por ele, na extensão da bondade aqui e ali…

Espalhava alimentação e agasalho, alívio e remédio, através de largas faixas de solo, explorando com felicidade os negócios materiais que lhe garantiam preciosa receita.

Depois de quase um século, tornou à justiceira aduana.

Trazia a roupa mais alva, mais linda.

Ansiava subir às Esferas Superiores, mas, ajustado à balança, com tristeza verificou que o peso não se alterara.

O Anjo abraçou-o e explicou:

— Pelo teu louvável comportamento, junto às posses humanas, conquistaste a posição de Provedor e, por isso, a tua forma é hoje mais bela; no entanto, para que adquiras o clima necessário à vida no Céu, é indispensável regresses ao mundo, nele plantando as bênçãos do amor.

O Espírito, embora desencantado, voltou ao círculo terreno. Todavia, preocupado com a opinião dos contemporâneos, fez-se hábil político, estendendo o bem, por todos os canais e recursos ao seu alcance.

Movimentou verbas imensas construindo estradas e escolas, estimulando artes e indústrias, ajudando a milhares de pessoas necessitadas.

Quase um século se esgotou sobre as novas atividades, quando a morte o reconduziu à conhecida fronteira. Trazia, ele, uma túnica de beleza admirável, mas, levado a exame, a mesma balança revelou-se desfavorável.

O fiscal amigo endereçou-lhe um olhar de simpatia e disse, bondoso:

— Trouxeste agora o título de Administrador e, em razão disso, a tua fronte aureolou-se de vigorosa imponência… Para que ascendas, porém, é imprescindível retornes à carne para a lavoura do amor.

Não obstante torturado, o amigo do Céu reencarnou no Plano físico, e, fundamente interessado em preservar-se, ajuntou milhões de moedas para fazer o bem. Extensamente rico de cabedais transitórios, assalariou empregados diversos que o representavam junto dos infelizes, distribuindo a mancheias socorro e consolação.

Abençoado de muitos, após quase um século de trabalho voltou à larga barreira.

O aferidor saudou-lhe a presença venerável, porque da roupagem augusta surgiam novas cintilações.

Apesar de tudo, ainda aí, depois de longa perquirição, os resultados lhe foram adversos.

Não conseguira as condições necessárias ao santo cometimento.

Debulhado em lágrimas, ouviu o abnegado companheiro, que informou prestimoso:

— Adquiriste o galardão de Benfeitor, que te assegura a insígnia dos grandes trabalhadores da Terra, mas, para que te eleves ao Céu, é imperioso voltes ao Plano carnal e semeies o amor.

Banhado em pranto, o aspirante à Morada Divina ressurgiu no corpo denso, e, despreocupado de qualquer proteção a si mesmo, colocou as próprias mãos no serviço aos semelhantes…Capaz de possuir, renunciou às vantagens da posse; induzido a guardar consigo as rédeas do poder, preferiu a obediência para ser útil, e, embora muita vez bafejado pela fortuna, dela se desprendeu a benefício dos outros, sem atrelá-la aos anseios do coração… Exemplificou o bem puro, sossegou aflições e lavou chagas atrozes… Entrou em contato com os seres mais infelizes da Terra. Iluminou caminhos obscuros, levantou caídos da estrada, curvou-se sobre o mal, socorrendo-lhe as vítimas, em nome da virtude… Paralisou os impulsos do crime, apagando as discórdias e dissipando as trevas…  Mas a calúnia cobriu-o de pó e cinza, e a perversidade, investindo contra ele, rasgou-lhe a carne com o estilete da ingratidão.

Depois de muito tempo, ei-lo de volta ao sítio divino.

Não passava, porém, de miserável mendigo, a encharcar-se de lodo e sangue, amargura e desilusão.

— Ai de mim! — soluçou junto ao vigilante da Grande Porta, — se de outras vezes, envergando veste nobre não consegui favorável resposta ao meu sonho, que será de mim, agora, coberto de barro vil?

O guarda afagou-o, enternecido, e conduziu-o à sondagem habitual.

Entretanto, oh! Surpresa maravilhosa!…

A velha balança, movimentando o fiel com brandura, revelou-lhe a sublime leveza.

Extático, em riso e pranto, o recém-chegado da Esfera Humana sentiu-se tomado nos braços pelo Anjo Amigo, que lhe dizia, feliz.

— Bem-aventurado sejas tu, meu irmão! Conquistaste o título de Servo. Podes agora atravessar o limite, demandando a Vida Superior.

Imundo e cambaleante, o interpelado caminhou para frente, mas, atingindo o preciso lugar em que começava a claridade celeste, desapareceu a lama que o recobria, desagradável, e caíram-lhe da epiderme equimosada as pústulas dolorosas… Como por encanto, surgiu vestido numa túnica de estrelas e, obedecendo ao apelo íntimo, elevou-se à glória do firmamento, coroado de luz.

 

 

Estante da vida

Irmão X / Francisco Cândido Xavier

 

sábado, 9 de novembro de 2024

O Palhacinho - gratidão

 

O PALHACINHO

 

Certa vez, um pequeno circo chegou a uma cidadezinha do interior, com apenas três trailers, que transportavam os artistas, servindo-lhes de moradia; com rodas, janelas e até uma chaminé que fumegava sempre, chamando a atenção das pessoas que passavam.


Entre os artistas mirins do pequeno circo, destacava-se o palhacinho: um lindo menino de dez anos, moreno de cabelos crespos que saíam do pequeno chapéu. Era Jorge, o filho do dono do circo. Tornara-se popular, pois sempre andava com a fantasia de palhaço.


Jorge era um bom menino. Esforçava-se para desempenhar bem o seu papel nas atividades do circo, assim como ajudava os outros em suas tarefas.

O pai de Jorge sentia-se muito orgulhoso do filho e se considerava um homem feliz. No entanto, ultimamente andava preocupado com as finanças do circo, mesmo com maravilhosos espetáculos, pois o frio e as chuvas frequentes afastavam as pessoas do circo.

Numa noite de imenso frio, o circo estava quase deserto. Os artistas ficaram desanimados, mas o palhacinho se esforçava em alegrar o público presente, dando saltos, agarrando-se à cauda dos cavalos, andando de pernas pro ar, cantando canções engraçadas, sempre com sorriso em seu rostinho. O pai olhava-o com admiração, mesmo estando um tanto triste.


Todos sabem que os circos sobrevivem das contribuições dos pagantes, e com o público ausente, não há rendimentos.

Nessa mesma noite, estava Sérgio com seu pai para verem o espetáculo. O pai era jornalista e trabalhava num jornal. Sérgio ficou sério ao perceber que havia poucas pessoas no circo, mesmo divertindo-se com as piruetas do palhacinho; e como era um menino muito bom, generoso e inteligente, virou-se para o pai e disse penalizado:

- Que pena, pai! Tão poucos assistentes e um espetáculo tão bom! Gostaria tanto que outras pessoas vissem as proezas do palhacinho!

O pai sorriu com ternura e respondeu:

- Creio que uma boa propaganda colocada no jornal despertaria o interesse do povo. Amanhã mesmo escreverei um artigo sobre o palhacinho do circo. Que acha da ideia, filho?

- Ótima ideia, pai! Aqui na cidade todos gostam do que o senhor escreve. Garanto que na próxima apresentação o circo estará cheio. - falou Sérgio entusiasmado.

No dia seguinte foi publicado no jornal da cidade um belo artigo com uma ilustração do palhacinho. A propaganda deu resultado levando uma multidão ao circo atraída pelo artigo.

Sérgio e o pai também foram e sentaram-se bem na frente, aplaudindo as proezas do palhacinho, que já sabia do artigo no jornal e que estava ali presente o autor.

O pai de Sérgio, vendo que o palhacinho olhava para ele com insistência, compreendeu e para evitar agradecimentos, preferiu sair, dizendo ao filho:

- Espero você lá fora, meu filho. Fique até terminar.

O palhacinho fez algumas acrobacias sobre o cavalo e toda vez que passava perto de Sérgio, olhava-o sorrindo.

Jorge, então, começou a andar ao redor do picadeiro com o chapéu entre as mãos, recebendo as moedas e caramelos que o público jogava. Ao chegar perto de Sérgio, em vez de apresentar o chapéu, retirou-o e passou adiante, deixando-o entristecido.

Sérgio levantou-se ao final, meio aborrecido, e procurou o pai, quando sentiu que lhe tocavam no braço, era o palhacinho, que muito sorridente, lhe entregou um punhado de caramelos.

- Quer aceitar estes caramelos? – perguntou timidamente estendendo-lhe as mãos.

Sérgio sorriu e, para ser agradável, pegou uns três, deixando o palhacinho muito contente.

- Quero agradecer a você e a seu pai. Não podem imaginar o bem que nos fizeram com aquela notícia no jornal. Nunca me esquecerei de vocês e rezarei sempre pela sua família. – falou o pequeno palhacinho, pedindo um abraço.

- Dê-me dois. – respondeu Sérgio.


Então, o palhacinho abraçou-o, dizendo ainda, com muito carinho:

- Leve um para seu pai.

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Da Apostila Evangelização Infanto-juvenil

Primário A, aula 22 - Gratidão