As
funções reencarnatórias da infância
Cezar Braga Said
A grande lei da evolução, que rege todos os seres,
deve também servir de base a toda organização social. Cada um tem o direito a
uma situação relativa às suas aptidões e suas qualidades morais. Ora, é a
aquisição que trazemos de nossas vidas anteriores que a educação espírita
poderia esmerilhar.
Léon Denis (Socialismo e Espiritismo)
Diferentes autores, nos mais variados
campos do conhecimento, tais como o biólogo Jean
Piaget (1896-1980), o advogado e estudioso da psicologia, Lev Seminovitsky (1896-1934), a
psicanalista Anna Freud (1895-1982),
o filósofo e médico francês, Henry Wallon
(1879-1962), além de outros, ao escreverem sobre o desenvolvimento humano
assinalaram etapas, fases ou estágios pelos quais uma criança passa até
alcançar o amadurecimento biopsicossocial de que seja capaz.
É esse amadurecimento que para alguns
pesquisadores criará condições para que haja aprendizagem. Para outros, a
aprendizagem ocorrendo é que criará condições para que haja o desenvolvimento.
E, para uma terceira linha de pensadores, os dois processos, aprendizagem e
desenvolvimento, ocorrem simultaneamente, não sendo possível demarcar com
precisão quando um e outro se dão.
Embora a prioridade do evangelizador
espírita seja conhecer o Espiritismo e se evangelizar a cada dia, num processo
ininterrupto que se confunde com a própria evolução, tomar contato com as
teorias desses autores, mesmo que não sejam espíritas, pode ensejar importantes
reflexões e analogias, facilitando o nosso entendimento a respeito de quem seja
e como se comporta o Espírito reencarnado com o qual estamos lidando.
Afinal, precisamos abrir e não fechar
nossas possibilidades de compreensão, distinguindo, naturalmente, o que seja
convergente ou não com o pensamento espírita.
Um autor espírita que nos ajuda a
ampliar a visão acerca das questões da educação e, particularmente, sobre a
infância e a juventude, é Ney Lobo. Seu livro, Espiritismo e Educação, nos apresenta um estudo fundamentado na
codificação (O Livro dos Espíritos –
LE) sobre seis funções importantes ensejadas pela reencarnação. Funções que são
etapas que se superam, mas características que se interpenetram e se completam.
Conhece-las é importante, pois uma definição possível para o educando à luz do
Espiritismo é que ele é um Espírito reencarnado. São elas:
Ø Transição (LE – questão 183)
Ø Repouso (LE – questão 382)
Ø Ocultamento (LE – questão 385, §3º)
Ø Atratividade (LE – questão 385, §4º)
Ø Plasticidade (LE – questão 385, § 7º)
Ø Emersão (LE – questão 385, §1º)
Transição – o Espírito
transita de uma para outra reencarnação. Transita da vida espiritual para a
corporal e também transitará da infância para a adolescência e assim
sucessivamente.
Repouso (relativo) – o
Espírito vem de dois traumas ou duas grandes mudanças: a redução, constrição do
seu corpo perispiritual para se ajustar ao novo corpo em formação no ventre
materno e o parto, onde toda a situação de conforto oferecida pelo útero tem
fim com o nascimento.
Ocultamento – tendências e
aptidões encontram-se camufladas e só paulatinamente aflorarão, exigindo a
intervenção educativa dos pais e demais educadores.
Atratividade – decorrente da
fragilidade, da graça, da beleza, das limitações próprias da infância que
despertam em nós o cuidado, a proteção e o carinho.
Plasticidade
–
no estado transitório da infância corporal o Espírito é mais sensível e
moldável às impressões que sobre ele exerçam todos os agentes educativos.
Emersão – tudo o que se
encontra oculto em termos de pendores positivos ou negativos irá,
gradativamente, aflorar e se confrontar com as influências benéficas ou não que
o ser haja recebido nos primeiros anos de sua vida terrena.
O estudo espírita continuado e o esforço
em nos transformar em seres melhores são as ferramentas, por excelência, para a
tarefa abraçada pelos evangelizadores da infância e da juventude.
Sem eles, poderemos até sermos bons
evangelizadores, mas nunca evangelizadores espíritas. Poderemos até convencer
intelectualmente, mas não teremos nos convertido no santuário do nosso coração,
dulcificando a alma a fim de nos tornar o sal da Terra e a luz do mundo a que
alude Jesus.
Bibliografia: LOBO, Ney. Espiritismo e Educação. FESPE: Vitória, 1995.
Fonte: Jornal Mundo Espírita, Fev. 2014, nº 1555, ano
81.
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