O ESPÍRITO DA
MALDADE
O Espírito da Maldade, que
promove aflições para muita gente, vendo, em determinada manhã, um ninho de
pássaros felizes, projetou destruir as pobres aves.
A mãezinha alada, muito contente,
acariciava os filhotinhos, enquanto o papai voava, à procura de alimento.
O Espírito da Maldade notou
aquela imensa alegria e exasperou-se. Mataria todos os passarinhos, pensou
consigo. Para isto, no entanto, necessitava de alguém que o auxiliasse. Aquela
ação exigia mãos humanas. Começou, então, a buscar a companhia das crianças.
Quem sabe algum menino poderia obedecê-lo?
Foi à casa de Joãozinho, filho de Dona Laura, mas Joãozinho estava muito ocupado na assistência ao irmão menor, e, como o Espírito da Maldade somente pode arruinar as pessoas insinuando-se pelo pensamento, não encontrou meios de dominar a cabeça de João.
Correu à residência de Zelinha, filha de Dona Carlota. Encontrou a menina trabalhando, muito atenciosa, numa blusa de tricô, sob a orientação materna, e, em vista de achar-lhe o cérebro tão cheio das ideias de agulha, fios de lã e peça por acabar, não conseguiu transmitir-lhe o propósito infeliz.
Dirigiu-se, então, à chácara do senhor Vitalino, a observar se o Quincas, filho dele, estava em condições de servi-lo. Mas Quincas, justamente nessa hora, mantinha-se, obediente, sob as ordens do papai, plantando várias mudas de laranjeiras e tão alegre se encontrava, a meditar na bondade da chuva e nas laranjas do futuro, que nem de leve percebeu as ideias venenosas que o Espírito da Maldade lhe soprava na cabeça.
Reconhecendo a impossibilidade de
absorvê-lo, o gênio do mal lembrou-se de Marquinhos, o filho de Dona Conceição.
Marquinhos era muito mimado pela mãe, que não o deixava trabalhar e lhe
protegia a vadiagem. Tinha doze anos bem feitos e vivia de casa em casa a
reinar na preguiça. O Espírito da Maldade procurou-o e encontrou-o, à porta de
um botequim, com enorme cigarro à boca. As mãos dele estavam desocupadas e a
cabeça vaga.
- "Vamos matar passarinhos?" - disse o espírito horrível aos
ouvidos do preguiçoso.
Marquinhos não escutou em forma
de voz, mas ouviu em forma de ideia. Saiu, de repente, com um desejo
incontrolável de encontrar avezinhas para a matança.
Somente mais tarde é que
Marquinhos compreendeu que o Espírito da Maldade somente pode agir, no mundo,
por intermédio de meninos vadios ou de homens e mulheres votados à preguiça e
ao mal.
XAVIER, Francisco
Cândido.
Alvorada Cristã. Pelo
Espírito Neio Lúcio. FEB. Capítulo 48.
Gravuras retiradas da Internet e da Apostila da FEP
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