sábado, 10 de outubro de 2020

O ESMOLER DA VILA – Caridade – Renúncia – Senso de dever

 

O ESMOLER DA VILA – Caridade – Renúncia – Senso de dever

Lavdam Derien

 

Naquela comunidade de franciscanos, frei Teófilo era o responsável pela sopa dos pobres. Todos os dias, de manhã, ia colher verduras e legumes na horta, trazia ossos do açougue da vila (para aproveitar o tutano) e, depois, preparava uma substanciosa sopa num grande caldeirão de ferro. Enquanto a sopa cozia, aproveitava para fazer um exercício devocional individual.

Muitos anos, continuou ele nesse serviço e devoção. Um dia, embora de olhos fechados em prece, percebeu uma luminosidade incomum no ambiente. Abriu os olhos e viu, rodeada por intensa luz, a figura viva do Cristo à sua frente! Instintivamente Teófilo se prostrou. Seu coração batia descompassadamente, ameaçando romper-se de alegria!

Mas seu arrebatamento foi interrompido: a campainha da porta da rua soou estridentemente. Eram os pobres!

Teófilo titubeou.

- Oh! Deus! Como deixar esta revelação pela qual aspirei e esperei a vida inteira? E que direito têm os pobres de interromper este êxtase sublime?

Ergueu implorativo olhar, mas o Mestre apenas o observara atentamente. A campainha tocou outra vez. Movido pelo dever, o frade suspirou, inclinou-se ante o Cristo e correu à cozinha. Tomou o caldeirão e a concha e dirigiu-se à porta. Os pobres já estavam nervosos. Teófilo os serviu pacientemente, mas ainda estava ansioso e emocionado.

Quando terminou sua tarefa, tornou à cozinha, deixou ali os apetrechos e olhou esperançosamente para seu quarto; ainda estava esplendidamente iluminado! Entrou. O Cristo o esperava! Comovido e jubiloso ajoelhou-se e o Mestre disse-lhe:

- Teófilo, se tivesses ficado, eu teria ido...

 

Texto retirado do livro “A luz dissipa as trevas”

de Paulo Daltro de Oliveira

Páginas 71 e 72




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