sábado, 22 de janeiro de 2022

A SURPRESA - Reforma íntima, respeito, amor à família - fazer aos outros o quer para si

 

A SURPRESA

 

- Faremos uma surpresa para nossa querida Otília. Iremos ao seu lar e cantaremos para ela, cumprimentando-a por seu aniversário. Ela vai “morrer” de emoção!...

O grupo de jovens, integrado na Mocidade Espírita, em atuante instituição, tinha razões para festejar o acontecimento. Otília era muito estimada, jovem dinâmica, musicista, cheia de iniciativas, alegre e comunicativa.

Planejaram tudo certinho. Prepararam “comes e bebes” para a festinha que se seguiria à homenagem... Tudo feito “em surdina”, a fim de que a aniversariante não desconfiasse de nada. Chegaram até a compor uma música, com estribilho torto, mas sincero, que diz assim:

“Você é nossa companheira,

Nosso exemplo vivo,

Nossa líder inspiradora,

Seguiremos sempre consigo.”


Chegaram de mansinho, silenciosamente, contendo a própria euforia, risos abafados... Abriram o portão, ganharam a área interna e preparavam-se para iniciar a cantoria quando ouviram a voz de Otília, timbre estranho, ardido, discutindo com a mãe:

- Eu já disse para não se intromete em minha vida! Faço o que julgo direito e você não tem nada com isso!

- Minha filha, - pedia a mãe – fale baixo, olhe os vizinhos... Tenhamos cuidado. Ninguém precisa saber de nossos problemas...

- Ora, os vizinhos que se danem – gritava a moça a plenos pulmões – e você também!

- Otília, não quero discutir, mas não é justo agir como se fosse sozinha. Nossa vida está difícil! Há seus irmãos menores, seu pai está doente. Precisamos nos unir...

- Você quer dizer com isso que devo cuidar da molecada? Contribuir para o sustento da casa? Negativo! Meu tempo é escasso e há necessidades e pessoas. O que ganho mal dá para atendê-las!

O pessoal ouvia estarrecido. Aquela Otília era totalmente desconhecida. Áspera, agressiva, deseducada, bem diferente da moça que frequentava o Centro Espírita, exibindo enganador sorriso.

O diálogo prosseguia, num duelo ingrato entre a mãe, senhora respeitável e sofredora, e a filha, indisciplinada e estentórica.


Em dado instante, Otília, exasperada, afastou-se a pronunciar palavrões e abriu a porta...

Lívida, desagradavelmente surpreendida, deparou-se com os companheiros que a fitavam em silêncio. Pouco depois ela ficou totalmente sozinha na área. No chão ficaram cópias amassadas da música em sua homenagem, com o estribilho:

“Você é nossa companheira,

Nosso exemplo vivo,

Nossa líder inspiradora,

Seguiremos sempre consigo.”


Se falece em nós o empenho de ajustar nosso comportamento ao que idealizamos, sob inspiração de princípios morais, não só marcaremos passo em relação à própria edificação, como causaremos desanimadoras decepções naqueles que seguem conosco.

 

Do Livro “Atravessando a Rua”

de Richard Simonetti

 

 

 







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