ESOPO E A LÍNGUA
– Uso do dom da fala
Raimundo Dias Paes
A palavra, depois do exemplo, é
sem dúvida, a grande alavanca dos ideais.
Daí, Esopo, o maior fabulista
grego, emprega-la com muita preciosidade em suas famosas fábulas.
Certa vez, chegando a sua
residência, o senhor, virando-se para seu criado Esopo, ordenou-lhe fosse-lhe
preparado para o almoço o melhor prato por ele conhecido. O criado, obediente,
assim o fez e, na hora aprazada, lá estava a mesa posta com apenas um tigela
mediana.
Descobrindo a tigela, viu o
senhor que continha, apenas, um guisado de língua. Inquirido, o criado
explicou:
- Senhor, a língua é, realmente, o melhor prato; com ela tem-se a
possibilidade da fala e com esta, da expressão. Pode-se, com a língua, portanto,
iluminar, edificar, convencer e converter para o bem as criaturas; a palavra, que
expressa a verdade, nenhum poder a detém, nem há força que a neutralize. A boca
dos canhões, vomitando fogo, não apavora os redutos da iniquidade quanto a boca
do homem proclamando a verdade. Com ela, constroem-se os perfeitos seres de
bem. Com a língua, finalizou, podemos cantar, namorar, ensinar, ninar nossas
crianças. São tantos atributos bons, que a considero o melhor prato.
O amo e senhor, muito
impressionado, virou-se e pediu-lhe:
- Já que fizeste o melhor prato para o almoço, desejo provar o pior
para o jantar.
Almoçou, saiu e, ao retornar, depois
de um bom banho e repouso passageiros, dirigiu-se ao salão de refeições para
provar o que havia pedido a Esopo. Qual não foi a sua surpresa, por lá
encontrar a mesma tigela do almoço. Curioso, destampando-a, encontrou no
interior o mesmo guisado de língua servido no almoço.
- Ora, Esopo! – exclamou – disseste-me
ser a língua o melhor prato e agora me serve como o pior?
E o servo, pacientemente, se
explicou:
- Senhor, a língua é, realmente, o melhor prato, mas, também é o pior. É
o pior porque com ela nós mentimos, injuriamos, ofendemos, destruímos amizades
com palavras ofensivas, com ela nós blasfemamos contra o Criador, despejamos a
inveja e ódio sobre nossos vizinhos. O filho engana o pai, o pai a mãe e a mãe
o filho, num verdadeiro e ferino círculo de grosserias humanas. Assim, a língua
é instrumento de tudo de bom que possamos fazer aos outros, mas é, também, um
poderoso agente da destruição.
O senhor
meditou e, calado, lembrou-se de modificar a sua forma de falar. Só falando a
verdade, construindo seu futuro no bem, seria feliz.
Texto retirado do
livro: “A luz dissipa as trevas”
de Paulo Daltro de
Oliveira
Páginas 51 e 52
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