quarta-feira, 23 de setembro de 2020

ESOPO E A LÍNGUA – Uso do dom da fala

 

ESOPO E A LÍNGUA – Uso do dom da fala

Raimundo Dias Paes

 

A palavra, depois do exemplo, é sem dúvida, a grande alavanca dos ideais.

Daí, Esopo, o maior fabulista grego, emprega-la com muita preciosidade em suas famosas fábulas.

Certa vez, chegando a sua residência, o senhor, virando-se para seu criado Esopo, ordenou-lhe fosse-lhe preparado para o almoço o melhor prato por ele conhecido. O criado, obediente, assim o fez e, na hora aprazada, lá estava a mesa posta com apenas um tigela mediana.

Descobrindo a tigela, viu o senhor que continha, apenas, um guisado de língua. Inquirido, o criado explicou:

- Senhor, a língua é, realmente, o melhor prato; com ela tem-se a possibilidade da fala e com esta, da expressão. Pode-se, com a língua, portanto, iluminar, edificar, convencer e converter para o bem as criaturas; a palavra, que expressa a verdade, nenhum poder a detém, nem há força que a neutralize. A boca dos canhões, vomitando fogo, não apavora os redutos da iniquidade quanto a boca do homem proclamando a verdade. Com ela, constroem-se os perfeitos seres de bem. Com a língua, finalizou, podemos cantar, namorar, ensinar, ninar nossas crianças. São tantos atributos bons, que a considero o melhor prato.

O amo e senhor, muito impressionado, virou-se e pediu-lhe:

- Já que fizeste o melhor prato para o almoço, desejo provar o pior para o jantar.

Almoçou, saiu e, ao retornar, depois de um bom banho e repouso passageiros, dirigiu-se ao salão de refeições para provar o que havia pedido a Esopo. Qual não foi a sua surpresa, por lá encontrar a mesma tigela do almoço. Curioso, destampando-a, encontrou no interior o mesmo guisado de língua servido no almoço.

- Ora, Esopo! – exclamou – disseste-me ser a língua o melhor prato e agora me serve como o pior?

E o servo, pacientemente, se explicou:

- Senhor, a língua é, realmente, o melhor prato, mas, também é o pior. É o pior porque com ela nós mentimos, injuriamos, ofendemos, destruímos amizades com palavras ofensivas, com ela nós blasfemamos contra o Criador, despejamos a inveja e ódio sobre nossos vizinhos. O filho engana o pai, o pai a mãe e a mãe o filho, num verdadeiro e ferino círculo de grosserias humanas. Assim, a língua é instrumento de tudo de bom que possamos fazer aos outros, mas é, também, um poderoso agente da destruição.

O senhor meditou e, calado, lembrou-se de modificar a sua forma de falar. Só falando a verdade, construindo seu futuro no bem, seria feliz.

Texto retirado do livro: “A luz dissipa as trevas”

de Paulo Daltro de Oliveira

Páginas 51 e 52





 

Nenhum comentário:

Postar um comentário