sábado, 18 de dezembro de 2021

A PANELA - preconceito - diferenças físicas

 

A PANELA

 

A velha empregada de minha família era uma preta.

Chico, o neto dela, ­ como é costume acontecer quando não temos irmãos, ­ era o meu companheiro constante de brincadeiras e folguedos.

Em tudo quando fazíamos, a parte de Chico era sempre a mais pesada, secundária e passiva.

Ele tinha sempre que dar, e nunca, que receber.


Um dia corri para casa, à saída da escola porque Chico e eu tínhamos projetado construir uma vala que fosse do poço à lavanderia.

Sem darmos por isso, cada um de nós assumiu logo seu papel, ­ como de costume.

Chico era o “condenado” a trabalhos forçados, suando e repetindo esforços. E eu o implacável guarda, implacável guarda, com uma vara na mão!


A maneira com eu estava maltratando aquele menino negro, era quase digna de um adulto imbuído de preconceito de cor.

Foi quando a preta velha chamou-nos:

­ Crianças, venham por a minha panela no fogão!

Corremos para a cozinha. A panela estava no chão e nós a agarramos com ambas as mãos.  Mas com um grito a largamos, perplexos de que ela nos tivesse mandado pegar uma coisa que, ­ era evidente que sabia, ­ estava extremamente quente.

Em seguida, em graves e brandas palavras, tão nítidas e simples que até hoje as posso escutar, partindo do fundo do tempo, disse-nos assim:

­ Ora! Vocês dois se queimaram. Que coisa mais engraçada! A cor da pele de vocês é tão diferente, mais a dor que estão sentindo é igual para ambos, não é verdade?

Concordamos que sim.

E nunca mais pude me esquecer desse episódio que sem dúvida alguma, fez de mim uma pessoa diferente.

 

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                                                                                                                          Do livro: “E para o resto da vida...”

Wallace Leal V. Rodrigues

Desenhos da Apostila “Histórias e Ilustrações”

Volume 2 da Federação Espírita do Paraná.

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“A Terra é nossa grande casa de ensino. Conservar a criança sem educação dentro dela, é tão perigoso quanto abrir uma escola para a consagração da indisciplina.” (Aura Celeste).

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