domingo, 24 de julho de 2022

Atribulações de um Espírita Desencarnado

 

ATRIBULAÇÕES DE UM ESPÍRITA DESENCARNADO

 

Pela primeira vez, após seu desencarne, Eustáquio manifestava-se pela psicofonia mediúnica, no grupo de trabalho ao qual estivera vinculado durante 25 anos, nos labores da Caridade. Euforia e emoção!... O companheiro desencarnado fora abnegado servidor e grande amigo de todos.

- Meus queridos – saúda, emocionado o visitante, pela psicografia mediúnica. – Grande é minha alegria, de retorno à nossa convivência. Ainda não estou na plena posse de minhas forças, nem treinado para este intercâmbio. Posso adiantar, entretanto, que tudo o que aprendemos com nossa amada Doutrina Espírita é a expressão da realidade, principalmente no que se refere ao serviço do Bem, que é sublime semeadura para a Vida Eterna, favorecendo um retorno feliz à Espiritualidade. Embora pouco o que fiz, recebi preciosas compensações...



Após ligeira pausa, Eustáquio imprime leve traço de tristeza em suas palavras, dizendo:

- Entretanto, minha situação espiritual não é das melhores, porquanto se algo realizei em benefício do semelhante, fui muito descuidado em relação ao meu próprio Espírito. É relativamente fácil trabalhar pelo bem alheio; difícil é impedir o mal em nós mesmos. Não há dificuldade em orar por alguém, visitar um doente, pronunciar palavras de conforto e estímulo, atender o necessitado... Difícil é conter a irritação, evitar a maledicência, exercitar o perdão, abortar a má palavra... Semelhantes impulsos estão muito arraigados em nosso coração! E há os vícios... Incrível! Nem tenho conta das manifestações que presenciei de entidades desencarnadas a lamentar os excessos à mesa, os desregramentos, o álcool, o fumo, o tóxico... E eis-me aqui a engrossar o coro dos atormentados do Além, porque jamais levei a sério as advertências contidas naqueles dolorosos depoimentos!...




- Ora, Eustáquio, não se torture - diz conciliador o companheiro Breno. – Afinal, ninguém é perfeito...

- Sim, eu sei, eu sei... Todos têm fraquezas, mas ante as bênçãos do conhecimento espírita, há a obrigação de combatê-las. Enquanto permanecemos na escuridão ninguém pode nos criticar se tropeçamos, mas quando a luz se faz, cumpre-nos olhar por onde andamos. Nada posso fazer senão lamentar o tempo perdido, mas vocês permanecem na luta. Aproveitem as oportunidades; não percam tempo, aprendam a se analisar, olhem dentro de si mesmos. Vejam o que deve ser mudado e o façam, a fim de não colherem decepções idênticas às minhas... O título de servidor do Evangelho é importante: habilita-nos a muitas bênçãos, mas somente como discípulos autênticos do Cristo estaremos construindo, realmente, nossa felicidade. Isso pede não apenas a movimentação de nossas mãos pelo solo promissor da Fraternidade, mas, sobretudo, de nossa vontade, a trilhar com decisão árduos caminhos do aprimoramento espiritual.

O amigo desencarnado despede-se e a reunião é encerrada. Naquela noite não houve, como de costume, comentários em torno da manifestação. Todos meditavam, impressionados, sobre as graves advertências recebidas, sentindo que se desencarnassem naquele dia não estariam em melhor situação.

 

O conhecimento espírita é bênção de esclarecimento e orientação. Amenizando as agruras da jornada humana e estimulando-nos à movimentação pelo solo da Fraternidade, onde colhemos flores de Esperança e frutos dadivosos de trabalho enobrecedor.

Mas, representa, também, intransferível acréscimo de responsabilidade no campo do aprimoramento individual, partindo do princípio evangélico de que muito será solicitado àquele que muito recebeu.

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Do livro “Atravessando a rua”

Richard Simonetti

Cap. 32, página 109

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